sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

CONCEITO PARA O NOVO ANO

CONCEITO PARA O NOVO ANO

Quem me socorre?
Quem salva minha cabeça?
Quem salva o meu coração?
Nesta passagem de ano,
Entre dor e alegria...
Será um mistério?
Será um sonho?
Será uma oração?
...Amor!...

CANTA PASSARINHO!

CANTA PASSARINHO!

Não sei se pássaro ou jaula
É maior sofredor.
Não sei se quem mais sofre!
Não fosse uma mão assassina
Que os prende, que os domina,
Ninguém sofria...
Pobre pássaro, numa cadeia
Quando seu único crime é cantar!
Seu crime é ser belo!
Canta passarinho!...
Canta passarinho!...
Ninguém prende o teu canto...
Como ninguém prede o meu pensar!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

MENTIRA

MENTIRA

Distantes sons, alguns barcos, a bruma
                                                    [e o mar.
Que descrição de paisagem!
Este belo canário conta histórias
De paixão e tranqüiliza ou finge
Á partir de sua mentira...
A Luz dos jardins que fazem acontecer
                                                  [a sombra.
O ar pesado, úmido e as flores, muitas!
Arbustos e a dor no coração
Quando penso nela!

Naquela esquina, uma igreja
E escadas, as escadas do sonho vão.
Escadas para constatar a porta fechada
Noutro tempo e neste tempo...

À espreita, balcões e sabores
De peixes fritos e sushi.
Cantarolar na cama e frutas maduras
E a promessa de regresso...

O cenário se desfez ao ver
O outro lado da história
E ver partida a engrenagem
Ao constatar a mentira.
A tua mentira!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

PALAVRAS

PALAVRAS

Pediram-me para fechar a porta.
Eu calmamente a abri.
Não posso dizer que não posso.
Não vou dizer que não estou.
As palavras. Ah, as palavras!
Um labirinto mágico.
Que se volta mil vezes atrás.
Quanto mais se fala,
Mais se tem que voltar atrás.
As poucas que proferi,
Tive que retornar.
Transformei-me num náufrago
Que afundou no rio da infância.
E eu aí, abrindo a porta,
O coração, a boca.
Abrindo as lágrimas que me secavam.
E eu aí, anoitecido, rubro de desejo.
Mesmo assim,
Não posso dizer que não posso,
Não vou dizer que não estou.
A linguagem está de pé.
As palavras estão de pé.
Aí, decido fechar a porta.

MULHER QUE PASSA

MULHER QUE PASSA
        
De manhã levanto e viro andarilho
Vejo a bela mulher que passa.
A circular como uma gazela empinada
Parecendo prazerosa, feliz...
Todos os dias te espero encontrar.
Conto cada minutinho.
Lá está ela a passar!
Profunda entre as flores,
Vem desenhando
O nome no ventre da manhã.
Plena de amor e estrógeno,
Deusa do sonho da noite anterior.
Amanhã passará de novo
Amanhã vou te esperar.
Quando regressares,
Que venhas pousar em mim como
                                 [um pássaro.
Que venhas e movas o teu corpo,
Como uma bandeira,
Por sob o meu...

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

TEATRO À CÉU ABERTO

TEATRO À CÉU ABERTO

Mais uma vez o mar
Ondeia rompante e forte.
Areia, algas e sereias sofrem
Sem razão alguma...
Cruzam-se espessos remoinhos
E ventos fortes.
Céu congesto,
Nuvens negras pairam!
Medo infinito...
Olfato amargo.
Deus lava as mãos no mar...
Hoje dirá aos homens a sua culpa...
Arrecifes, horizonte curvo...
Depois, a vida continua...
Como num teatro à céu aberto!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

ODE À NOVA VIDA

ODE À NOVA VIDA

Como é forjado o ferro, forjarei novos dias.
Com o meu suor forjarei meu tempo.
Estou descendo às profundezas
E arrancarei de lá, de suas entranhas
Minhas novas conquistas.
Subirei montanhas, ao céu, às estrelas!
Subirei ao sol e ele me encherá de vida!
De luz do sol.
Serei tal qual o sol!
Com o meu suor forjarei outra vida,
                                        [grandiosa e humana.
Imortalizarei com meu esforço.
Com o meu suor forjarei a vida num grande
                                                      [canto solo.
Terei voz, terei alma, terei sonho!
Cantarei à forja, ao suor, à alma boa,
Cantarei à beleza e a nova vida.
Cantarei ao sol, porque o mundo é filho do sol.
Por que somos filhos do sol.
Cantarei ao novo sentimento humano
Que surgirá em meu peito e em meus novos dias.
Verei os campos floridos e as cidades, novas cidades.
Com o meu suor forjarei a vida!

domingo, 26 de dezembro de 2010

ESTOU VIVO!

ESTOU VIVO!

Afinal todos começam a enterrar
A minha memória recente.
Sou eu quem despojou as mãos e pés
Para estar entre os dias e noites
Com a docilidade de algumas canções
E a dureza da solidão, quadros e livros.
Agora posso sair a fumar um cigarro
Se quisesse.
Sair sem dizer para onde vou.
Os sapatos sujos ou limpos
O jaleco torto para um lado.
Agora posso voltar ou não.
Posso destinar uma saudação a alguém
Antes que o silêncio me destrua!
Agora posso sentir que existo...
Que minha sombra me acompanha...
Que estou de pé.
Ansioso, mas estou vivo!
A vida me excita a fitar os olhos da morte!

sábado, 25 de dezembro de 2010

VER ATÉ ONDE SE PERDER O OLHAR

VER ATÉ ONDE SE PERDER O OLHAR

Ver desde a manhã até o fim do sol
O verde-azul do meu mar...
Ver enquanto é possível,
Sem saber
O dia que termina este combate,
Ver até onde se perder o olhar.
Ver navios a passar!
O meu céu azul se junta ao mar
À noite vejo estrelas lá
Não sou mais o que era,
Hoje sou este.
E me vi passar,
Olhava o céu.
Olhava o verde-azul do meu mar!

RENUNCIA!

RENUNCIA!

Observa todo ar que respiras
e se instala em teu peito.
Observa toda água que ingeres
E vai ao teu estômago.
Será o legado que partilharão
Tua mulher, tua prole, teu cão...
Deixa para trás os teus versos,
Teus livros, teus discos
Que inutilmente colecionastes...
Renuncia a tudo como renuncia
O ar que se instala os teus pulmões
Como renunciam o teu poema, o teu cão
Como renunciam a tua mulher e a tua prole
Renuncia!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

ALGO QUE NÃO VEM!

ALGO QUE NÃO VEM!

Desse silêncio tão calado
Vem a tristeza...
Segue  a melancolia...
A paixão imortalizou a
Sua mais completa flor.
A flor da desconfiança
Ela é disforme,
Pétalas negras,
De um negrume breu!
Náufrago em mares estranhos.
Evoco lendárias canções
Os dias por mim passam
Muito lentamente...
E eu,
A esperar algo que não vem!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

NOITE DE ESTRELAS

NOITE DE ESTRELAS

Esta é noite das estrelas
E a minha noite, nela eu paro
Para tocar o timbre da minha alma.
Nela eu toco um violino afinado.
Nela estão as boas almas.
Nesta noite das estrelas.

Dizem que as estrelas são almas.
Almas dos que se foram...

Onde está minha alma?
Encantada em qual constelação?

Dias e dias transcorrem com devida paciência.
Dos ponteiros de um relógio.
O amor amadurece e tem um bom perfume.
Abre-se como abrem as flores na primavera,
Não se guarda, dá-se, oferece-se!
Respira ar puro e hoje se renova.
Meu coração se debate quando te vejo passar!

HUMANO SER

HUMANO SER

Então, em meio ao nada
Em meio à eternidade plena
O sonho lhe fugia inabalável
Doía-lhe a ferida aberta
De humano ser,
A ferida de não perceber
De ser aquela a morte do amor,
Doía-lhe naquela noite,
A única dor que foi possível...
Mas, já depois da morte...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

ESSE MUNDO NÃO É ÚNICO!

ESSE MUNDO NÃO É ÚNICO!


Escrevo muito pouco,
Bem menos do que vejo
E vejo muito menos do que desejo...
Do que na verdade existe.
Entretanto, seria mais que bastante,
Escrever uma porção de palavras
E cometer erros como cometi na vida
Em páginas virgens ou nas já escritas.
No entanto, sempre observando,
Que este mundo é muito grande,
Tem de tudo para se ver e possuir
Mas ele não é singular.
Esse mundo não é único!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

NARCISO E O ESPELHO

NARCISO E O ESPELHO

Fiz do amor um sonho para não morrer sozinho.
Afundei-me no espelho de minha própria voz.
Como Narciso, tornei-me meu único algoz,
Ao mergulhar num lago a procura de carinho.

Narciso desejando que o mundo o abandonasse
Via somente os teus olhos neste lago frio.
Espelho manso que me atraia para um rio.
De caudalosas águas sem que nunca esperasse.

Ser uma caverna onde minha palavra ecoava,
Tornado-se incompreensível qualquer apelo,
Para todo aquele que próximo de lá passava.

Narciso despertava em sua boca sons semânticos
Desejando que o mundo o abandonasse...
Na espera que seu eco fosse ouvido como cânticos.

NOITES DE LUTO

NOITES DE LUTO

Tu que dorme tão profundo e não te despertas!
Milagre de vivos, milagre de mortos,
Dos que amam e desamam com facilidade...
Pelos mortos e pelos vivos eternamente,

Muitas noites de luto e eu encontro tuas pupilas
Dentro das minhas, profundamente e incrivelmente!
Tento fugir e quanto mais fujo mais me aproximo.

Sob um resto de sombra ou uma réstia de lua.
Embriago-me nelas. Na calma de em uma lagoa,
Profunda, calada, límpida, tranqüila...

Um leito e uma tumba parecem-me cada uma...

sábado, 18 de dezembro de 2010

VOZES NATALINAS

VOZES NATALINAS

Ao longe um rumor de pessoas
Como águas tranqüilas,
Ao me aproximar um burburinho
Que me vão trazendo, um a um,
Meus momentos de criança
Das festas dos meus natais.

Fico ali, de pé, fitando aquela gente.
Naquela noite que avança sobre o dia,
Enquanto luzes se apagam e acendem
Milhares delas a piscar...
Nos troncos e sobre as árvores.
Como se dissessem: felizes e infelizes...

Assim, a tarde, inesperadamente,
Apodera-se dos meus passos.

O sol já se pôs sangrando...
Como o “Coração de Jesus”.
E, no entanto,
Sua voz ainda me chama na penumbra.
Com que quisesse me crucificar.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

SINGELO PERFIL

SINGELO PERFIL

A mais linda e secreta mulher
Que o vento desenhou para mim.
Admiro-te mais a cada dia, sim:
Pergunto-te mais: - o que você quer?

Ao longo do seu lindo perfil
Que de tão singelo feito estátua
Talvez seja tua imagem fáctua
De muitas nuvens de desenhos mil.

Presa na memória para sempre
Como as imagens das palavras 
Repete-se, diz e logo cumpre.

Certo seja a imagem que mais fica
Parada como se fosse esquecida
Essa imagem clara, límpida e rica...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

NUVEM CREPUSCULAR

NUVEM CREPUSCULAR

Essa é a hora do dia, a hora que ponho
Meu sangue nas nuvens.
  
Há algum coração em que o seu poente
Mergulha aquela nuvem sangrando.

A nuvem sombreia lá em baixo
E se enche de calma a terra.
Mas, lá do fundo do coração
Vê-se que se incendeia a nuvem.

A esta hora quedo-me a cantar
Minha canção de paz crepuscular.

Sou eu quem bate o coração...
Sou eu quem me veste de escarlate.

Ponho em meu coração a mão
E sinto o sangrar a cada vez que bate.

E nesta hora alguém também sofre
Uma perda, uma ansiedade tórrida,
Neste dia,
O único peito com o qual sangras.
É o meu...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

DANCEMOS

DANCEMOS

Dancemos esta música lenta.
Dá-me tua mão e me abraça.
Como se fizesse uma graça.
Encosta o teu corpo e tenta.

Cantemos no mesmo verso...
Dancemos o mesmo compasso.
No ritmo, ondulemos o passo,
Dança, dança nada mais te peço...

Te chamas Desejo e eu Esperança;
Contudo, meu nome irá esquecer.
Em mim o teu nome, deixarei morrer,
Mesmo que pares esta linda dança.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

MEU SONHO ESTÁ FERIDO

MEU SONHO ESTÁ FERIDO

Trago nas minhas asas
Penas da ave do sonho ferido.

Trago nas minhas asas
Restos da noite do coração em silencio.

Trago nas minhas asas
Palavras frescas e choros doloridos.

Toda essa carga que trago em minhas asas
Faz-me carregar minhas asas como um fardo.

Toda essa carga que trago em minhas asas
Também me faz ser filho do sonho,
Filho da noite, irmão das palavras
E dos choros doídos.

Sou livre!
Mesmo com toda essa carga que
                                      [trago em minhas asas.

Meu sonho também está ferido
Meu coração em silencio espera.
Enquanto isso: Choro... Choro... Choro...

QUANDO TU NÃO OUVIAS MAIS...

QUANDO TU NÃO OUVIAS MAIS...

Não cantes nada para mim
Que não te ouvirei
Nem um segundo...
Não ouvirei!

Tenho o ouvido fechado
Por um coração fechado
Corpo fechado!

O Tempo, talvez.
Talvez o tempo possa
Nos absolver...
Das palavras de amor
Que neguei-me a ouvir de ti.
E das palavras que te disse
Quando tu não ouvias mais.

QUANDO TU NÃO OUVIAS MAIS...

QUANDO TU NÃO OUVIAS MAIS...

Não cantes nada para mim
Que não te ouvirei
Nem um segundo...
Não ouvirei!

Tenho o ouvido fechado
Por um coração fechado
Corpo fechado!

O Tempo, talvez.
Talvez o tempo possa
Nos absolver...
Das palavras de amor
Que neguei-me a ouvir de ti.
E das palavras que te disse
Quando tu não ouvias mais.

domingo, 12 de dezembro de 2010

O.V.N.I.

O.V.N.I.

O vento sibila e o seu eco
Faz-me a surpresa do dia.
Vento forte com assobio...

Instala-se no céu o momento!
Revela-se no centro da retina
Uma luz, muito clara, quase branca.

No crepúsculo, vozes aleatórias.
Frases antes submersas nos livros
Rodopiam o meu ser inteiro.

Uma imagem me consome...
Faz centelha no ar e nas minhas veias
Tenho arrepios e muito medo...

Se soubesse a hora não estaria aqui
Até saberia como despistar, fugir.
Não, não, mas enxergo um imenso disco
A pairar à minha frente como a me convidar!

Penso nas flores, nas pessoas, em mim.
Desfaleço.
Quando acordo cheiro ácido e mais nada!

sábado, 11 de dezembro de 2010

APELO A DEUS

APELO A DEUS

O frio medo da morte certa
Definitivamente dará mais prazer
Que o crime e o dolo de ter
A Tua Face. Teu Ser encoberto.

Morrer é certo para todos nós
Mas o segredo da vida é vivê-la.
Por mais longa ou curta, é mantê-la
Sempre viva e renovada prá Vós

Que faço para aproximar-me de Ti?
Quando eu de Ti me avizinho
Desse Teu enigma de espinho
Tanto mais quero, mais longe fico daí...

Que paz deverei ter na vida?
Que pensamento ou que pausa?
Deve ser meu motivo uma causa?
Ou então pode ser u`a medida?...

Um poder gigantesco possuis em Ti...
Que do caos construiu tudo isso.
Desafio-Te a me fazer submisso...
Se existes, volta-me tudo que perdi...

QUE FANTASIA LOUCA...

QUE FANTASIA LOUCA...                     

Só deixou-me ser o seu amigo, ora!
O seu amigo só, já que não mais queria
Que o meu amor fosse além daquele dia.
Fui o mais triste de todos, muito embora.

Libertei-me de ti, que só tinha mágoa e dor...
Bendita seja você. Com a coragem de dizer!
Que importância deste a mim? Se o teu querer,
Era sempre sonho bom!  Para chorar ou compor...

Amava-me desprendida. Amor devagarzinho...
Como se nós dois não tivéssemos uma missão
Tudo ao mesmo tempo, tudo em mesmo ninho...

Beijávamos muito bem!... Que fantasia louca...
Afinal, levo aqui guardados, em minhas mãos,
Todos os beijos que sonhei dar em tua boca!...

VELA AO LUAR

VELA AO LUAR

Vejo ao longe o luar,
Refletido no rio.
No rio avisto uma vela,
Serena, que a passar.
Lenta e linda,
Reproduz a beleza em meu olhar
O que isso em mim acende?

Sei não, mas em mim
Torna-se
tudo estranho,
Acho que sonho sem ver
Que sonho tenho?

A agonia de mim se afasta!
O amor não se explica...
É uma vela que passa
Serena,
Lenta e linda
Pelo rio que fica.

A MOCINHA E A FLOR

A MOCINHA E A FLOR

Toda flor que a mocinha vê
Poderá estar no sonho...
Ou no devaneio de ser jovem?
Sonho, fantasia, visão.
Seja o que for o sonho é risonho.
Um mundo sozinho, o seu carinho.
Antes do sonho conta um rebanho...
Não dorme de noite, de dia também...
A arvorezinha é sua vizinha...
E assim ela ganha o seu mundo.
O verdadeiro mundo.
A sombrinha da Aninha, é minha!...
O batom vermelho treinado no espelho,
Enquanto as amigas já usam maquiagem.
Se o cabelo assanha?
Meu Deus!
Vê a lua e sonha...
Que na lua há um passarinho
Que bebe chocolate.
A flor que a mocinha vê
Pode ser um lindo sonho...
Ou a quimera de jovem ser!

APRENDENDO

APRENDENDO

Não diviso a distância ainda:
- Como estou longe!
Pequenos progressos.
- Como estou desperto!

Quanto a estremas de regresso
Não deixo fio algum...
Não traço o caminho
Da rota percorrida
Em minha fuga.

Apresso o passo
Ao não sei aonde vou...
Só sei que estou só...

Enquanto não me desprendo
Dos cheiros passados
Enquanto solto minha casca
Que já não me cabe mais...

Tateio as distâncias
Conto o tempo.
Recebo o que mereço...
Colho o que planto...
Somo o que ainda não vejo!

RODA GIGANTE

RODA GIGANTE

A vida gira roda, roda, roda... 
Gira, e, a roda é roda-gigante!
Quando ela parou
Eu estava em ti.
Ali. Bem próximo a ti!

Aquele amor,
Que de tão grande,
Dava ansiedade.

Gira a roda das lembranças
Do que não vivemos...
Das coisas que não voltarão mais.

Inertes, meus braços, pela saudade,
Inertes pela melancolia!...

Gira e gira a roda-gigante
Em todas as dimensões de meu ser
E do teu ser

Muda toda a força dos maus sentimentos
Em força para girar e girar, girar...
E viver, viver, viver...

REBELIÃO

REBELIÃO

Penso que cada vez que passas
Mais apressada, mais apurada,
Tenho a certeza que logo vai
Dar-me uma chance, um olhar,
Mesmo curtinho, pequeno...

Nesses meus novos dias
Com tudo em aberto...

Tem me deixado a pensar,
Tonto, colérico, revoltado...
Subtrai-me segundos valiosos...
E nada me devolve!

Revolta contida:
Noutra volta, noutra volta...
Até que um dia:
Vai haver rebelião.

Quero você a cada passo.
A cada instante
A cada noite que passo
De sono sem dormir...

O PESCADOR E O MAR

O PESCADOR E O MAR

O pescador de pé sobre o barco
Dá as costas para o mar
E trabalha.

Submisso à vontade de pescar,
Vê apenas o “peixe”.

Nada lhe diz a brisa,
Nem os caminhos riscosos do mar.

Nada lhe diz as nuvens,
Nem os perigos da água profunda.

O pescador que dá as costas para o mar
E só trabalha:
Não lhe faz nenhuma falta navegar.

Nada tem a ver com o mar.
Não é do mar!

MENINA

MENINA

Morena menina dos olhos afoitos
Às vezes não durmo só pra te pensar
E quando durmo é pra te ninar...
Contigo ao meu lado sempre pernoito.

Nas noites de insônia e bares fechados
Menina da noite na noite te espero,
Te aguardo sempre por que te quero.
Sem sono, sem sonhos, sem feriados...

Doce menina eu quero a vida provar.
Você para mim é uma prenda.
Tão bela, tão solta, compreenda,
Haverei de um dia a ti conquistar.

Menina morena dos olhos faceiros.
É louca paixão? É seu corpo dourado...
Menina bonita de lábios molhados.
O temor e a maldade dos aventureiros.

Seu corpo assemelha um pedaço de lua,
Na noite derrama sua luz para o mundo,
No dia tu dormes e eu me confundo
Com este corpo lindo, um corpo da rua...

PENSAMENTOS OBSCESSIVOS

PENSAMENTOS OBSCESSIVOS

Os pressentimentos retornam
À primeira luz matinal
Como se não quisessem deixar-me
Saltitam entre a cabeça ao coração
Vão e voltam com força.
Dominam o meu pensar.
Subjugam o meu querer.
Não quero pensar, mas penso!...

Com um inesperado temor
Vejo a tua silhueta inerte, parada
A me olhar, a se aproximar...
Sei que esta presciência
Seja o eco de mim mesmo.
Seja o ressoar do meu querer.
Sussurrado, já faz tempo, por entre as mãos
Que esconderam os meus lábios
Quando me dissestes aquele adeus...


Retornam como se as palavras outra vez crepitassem
Ante a desordem que a tua decisão semeou
O fogo que era secreto, que era oculto.
Foi a público, tornou-se uma confissão...

Hoje os meus passos traçam a tua ausência.
Em que mar, quem sabe, será o reencontro?
Que mar nos lançará contra as pedras?
Em que tempo esse embate se dará?

Quem fará o trabalho suado contra
O perigo iminente do esquecimento!?

AMIZADES

AMIZADES
Bom é jogar conversa fora...

Rua afora, boca afora.
Pra me viver um pouco,
Pra me nascer no dia-a-dia.
Jogar fora os novos demônios...
E os velhos também...
Nas tempestades, alguém que escute.
Muitas vezes amizades colhidas cedo.
Há poucos dias. Outras antigas e,
Prestimosamente renovadas.
Amizades são como o vinho:
Envelhecem ficam melhores,
Outras viram vinagre na adversidade.
Mas, as novas são sempre saborosas.
São doces e belas...
Amizades.
São aquelas que se leva a passeio,
Se ensina futebol, se opina na vida
E se apresenta aos amigos.